A
criança nos diversos modelos de sociedade e, ao logo da história, ocupa um
lugar, mesmo quando este é de invisibilidade social. O mundo moderno e o
pós-moderno atribuem novos olhares e compreensões sobre a criança. Na
Antiguidade, a criança era percebida como um adulto em miniatura, que tinha
deveres e obrigações a cumprir. A partir do século XIX e, portanto, na
modernidade, ela passa a ser percebida como um ser humano que necessita de
cuidado, atenção e o adulto seria o responsável em prover tais necessidades.
Emerge, também, o conceito de infância (tal como conhecido hoje) e as diversas
perspectivas sociológicas sobre este período singular de desenvolvimento.
No
mundo pós-moderno a representação da infância vai tomando novas configurações. Podemos
pensar, por exemplo, na tecnologia como desencadeador de novas formas de se
perceber a infância e de possibilitar que a criança possa interagir com os
pares (iguais), com os adultos e com o mundo. Desde a Antiguidade existe o
fenômeno da criança negligenciada e abandonada, em uma cultura que não
compreendia a singularidade da infância como um processo do desenvolvimento
humano, fundamental na construção de uma identidade e na maneira do sujeito se
relacionar com o mundo.
Entendendo
a infância, também, como um fenômeno social penso nos diversos sentidos que
podem ser atribuídos a esta, considerando ainda o mundo globalizado e
tecnológico em que vivemos. Na multiplicidade de olhares sobre a criança no
mundo pós-moderno, qual o lugar do cuidado? Em uma sociedade, em que, por vezes,
a lógica do “ter” se sobrepõe ao “ser”, possibilitar a criança o livre acesso a
bens de consumo é garantir que ela seja cuidada e que se sinta cuidada? Estaríamos
produzindo novas formas de abandono a partir do momento que utilizamos a
tecnologia como uma maneira de “silenciar” a criança? Compreendemos a criança
como um ser em desenvolvimento e compreendemos o nosso papel, enquanto adultos,
no cuidado e na experiência da infância? De fato, qual o lugar da criança na
sociedade atual? São algumas das minhas inquietações ao pensar no mundo
pós-moderno e no lugar que estamos atribuindo a criança, principalmente se
considerarmos que podem emergir novas formas de violência e abandono.
Mestranda de Psicologia - Univasf
Nayara Louíse C.
Trocoli