"Conceder a palavra às crianças não significa fazer-lhes perguntas e fazer com que responda aquela criança que levantou a mão em primeiro lugar [...]. Conceder a palavra às crianças significa, pelo contrário, dar a elas as condições de se expressarem."
(TONUCCI, 2005).

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Infância e Pós-Modernidade - II

A criança nos diversos modelos de sociedade e, ao logo da história, ocupa um lugar, mesmo quando este é de invisibilidade social. O mundo moderno e o pós-moderno atribuem novos olhares e compreensões sobre a criança. Na Antiguidade, a criança era percebida como um adulto em miniatura, que tinha deveres e obrigações a cumprir. A partir do século XIX e, portanto, na modernidade, ela passa a ser percebida como um ser humano que necessita de cuidado, atenção e o adulto seria o responsável em prover tais necessidades. Emerge, também, o conceito de infância (tal como conhecido hoje) e as diversas perspectivas sociológicas sobre este período singular de desenvolvimento.
No mundo pós-moderno a representação da infância vai tomando novas configurações. Podemos pensar, por exemplo, na tecnologia como desencadeador de novas formas de se perceber a infância e de possibilitar que a criança possa interagir com os pares (iguais), com os adultos e com o mundo. Desde a Antiguidade existe o fenômeno da criança negligenciada e abandonada, em uma cultura que não compreendia a singularidade da infância como um processo do desenvolvimento humano, fundamental na construção de uma identidade e na maneira do sujeito se relacionar com o mundo.

Entendendo a infância, também, como um fenômeno social penso nos diversos sentidos que podem ser atribuídos a esta, considerando ainda o mundo globalizado e tecnológico em que vivemos. Na multiplicidade de olhares sobre a criança no mundo pós-moderno, qual o lugar do cuidado? Em uma sociedade, em que, por vezes, a lógica do “ter” se sobrepõe ao “ser”, possibilitar a criança o livre acesso a bens de consumo é garantir que ela seja cuidada e que se sinta cuidada? Estaríamos produzindo novas formas de abandono a partir do momento que utilizamos a tecnologia como uma maneira de “silenciar” a criança? Compreendemos a criança como um ser em desenvolvimento e compreendemos o nosso papel, enquanto adultos, no cuidado e na experiência da infância? De fato, qual o lugar da criança na sociedade atual? São algumas das minhas inquietações ao pensar no mundo pós-moderno e no lugar que estamos atribuindo a criança, principalmente se considerarmos que podem emergir novas formas de violência e abandono.

Mestranda de Psicologia - Univasf
Nayara Louíse C. Trocoli

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