Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Tendo a consciência dos possíveis reducionismos é factível
afirmar que fenômenos como depressão, automutilação e suicídio podem ter
correspondências com a qualidade das relações parentais, ou seja, o modo como
as crianças e os jovens são educados por seus pais podem repercutir nos
comportamentos, inclusive no decorrer de suas vidas.
Relações cronicamente permissivas, negligentes e ou autoritárias
têm sido apontadas como contribuidoras para um desenvolvimento comprometido da
criança e do adolescente. As relações permissivas, por exemplo, têm associação
com a construção de uma incapacidade das pessoas lidarem com a frustração, que
significaria não saber adiar a satisfação (ver o texto “Meu filho, você não
merece nada”, de Eliane Brum). A questão dos limites, do aprender com o “não”,
parece ser ponto fundamental nos processos educativos, mas que estamos, quiçá,
descuidando.
Além da falta de limites, tendemos a esgarçar nossas relações e,
consequentemente, acentuamos experiências de rompimento de vínculos (BOWLBY,
1997), podendo contribuir para desvitalização da vida. Sobre essa deterioração
da qualidade das relações entre pais e filhos é possível elencar o apego
ansioso, as exigências excessivas ou o não envolvimento ou indiferença.
O nosso mundo e a forma que educamos nossas crianças e
adolescentes estão, de maneira geral, prenhes de permissividade, de
negligência, de inversão de valores (onde ter é mais importante do que ser) e
pela obstinada ideia de que “temos que ser felizes”, sobretudo pelo “olhar do
outro”.
Relações parentais que trazem essas características impactam na
vida dos filhos, uma vez que podem comprometer o desenvolvimento da autonomia,
da autoconfiança, de saber lidar com a frustrações e também com a autoestima. É
nesse sentido que a depressão, a automutilação e o suicídio podem ter
correlações com a qualidade das relações parentais.
Referência: BOWLBY, John.
Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
Publicado originalmente no blog Carranca:
http://www.carrancanoticias.com.br/2017/09/pais-e-filhos-depressao-automutilacao-e.html
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