"Conceder a palavra às crianças não significa fazer-lhes perguntas e fazer com que responda aquela criança que levantou a mão em primeiro lugar [...]. Conceder a palavra às crianças significa, pelo contrário, dar a elas as condições de se expressarem."
(TONUCCI, 2005).

sábado, 7 de outubro de 2017

Pais e Filhos: depressão, automutilação e suicídio




Marcelo Silva de Souza Ribeiro

Tendo a consciência dos possíveis reducionismos é factível afirmar que fenômenos como depressão, automutilação e suicídio podem ter correspondências com a qualidade das relações parentais, ou seja, o modo como as crianças e os jovens são educados por seus pais podem repercutir nos comportamentos, inclusive no decorrer de suas vidas.

Relações cronicamente permissivas, negligentes e ou autoritárias têm sido apontadas como contribuidoras para um desenvolvimento comprometido da criança e do adolescente. As relações permissivas, por exemplo, têm associação com a construção de uma incapacidade das pessoas lidarem com a frustração, que significaria não saber adiar a satisfação (ver o texto “Meu filho, você não merece nada”, de Eliane Brum). A questão dos limites, do aprender com o “não”, parece ser ponto fundamental nos processos educativos, mas que estamos, quiçá, descuidando.

Além da falta de limites, tendemos a esgarçar nossas relações e, consequentemente, acentuamos experiências de rompimento de vínculos (BOWLBY, 1997), podendo contribuir para desvitalização da vida. Sobre essa deterioração da qualidade das relações entre pais e filhos é possível elencar o apego ansioso, as exigências excessivas ou o não envolvimento ou indiferença.
O nosso mundo e a forma que educamos nossas crianças e adolescentes estão, de maneira geral, prenhes de permissividade, de negligência, de inversão de valores (onde ter é mais importante do que ser) e pela obstinada ideia de que “temos que ser felizes”, sobretudo pelo “olhar do outro”.
Relações parentais que trazem essas características impactam na vida dos filhos, uma vez que podem comprometer o desenvolvimento da autonomia, da autoconfiança, de saber lidar com a frustrações e também com a autoestima. É nesse sentido que a depressão, a automutilação e o suicídio podem ter correlações com a qualidade das relações parentais. 

 Referência: BOWLBY, John. Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

Publicado originalmente no blog Carranca:
http://www.carrancanoticias.com.br/2017/09/pais-e-filhos-depressao-automutilacao-e.html


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