"Conceder a palavra às crianças não significa fazer-lhes perguntas e fazer com que responda aquela criança que levantou a mão em primeiro lugar [...]. Conceder a palavra às crianças significa, pelo contrário, dar a elas as condições de se expressarem."
(TONUCCI, 2005).

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Defesa de dissertação sobre o conhecimento de professores de educação infantil em relação as habilidades sociais

Ocorreu hoje a defesa de dissertação de Adriana Miron, recém mestra do PPGFPPI - UPE (campus Petrolina) que versa sobre o conhecimento (epistemologia) de professores de educação infantil em relação as habilidades sociais. Os resultados apontam para uma lacuna em termos de distanciamento entre o que se conhece e o que é posto conceitualmente. As habilidades sociais, sobretudo na educação infantil, tem sido apontadas como fundamentais para o processo educativo das crianças. Entretanto, há uma crucial questão posta à mesa: como trabalhar as habilidades sociais das crianças se os professores carecem de um espaço formativo adequado? Embora não seja a problemática central dessa investigação, Miron toca nesse ponto nevrálgico e lega algumas luzes.
Eis aqui os agradecimentos do NUPIE!



Banca: Franciela Monte (primeira a esquerda), Virgínia Ávila (primeira a direita) e Marcelo Ribeiro (segundo a direita - orientador)
Mestra: a querida Adriana Miron (segunda a esquerda).

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Oficina de Contação de Histórias




 No dia 3 de junho ocorreu a 1ª Oficina de Contação de Histórias, promovida pelo projeto “Erê - Vamos Brincar? Oficinas Lúdicas de Leituras e Outras Linguagens”, na Sala Azul, do campus Centro da Univasf (Petrolina-PE). Esta oficina foi facilitada pela professora Janedalva Gondim e estudantes do Colegiado de Artes Visuais e objetivou apresentar várias técnicas de contação de história, além de aspectos teóricos sobre o tema. A participação do público, em sua maioria professores da rede de ensino e estudantes de pedagogia e psicologia, foi efusiva e certamente proveitosa do ponto de vista da formação.
Que venham as próximas oficinas!





Lição das crianças: não ser ingênuo, mas não perder a inocência



   
Certa vez ouvi de um amigo gaúcho que não nos era mais permitido ser ingênuos no mundo, mas isso não significaria perder a inocência em nossos corações. Desde então tenho notado o quanto isto tem a ver com o jeito das crianças serem e a importância dos adultos estarem abertos para aprender com elas.  
A pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Virgínia Kastrup (1999; 2000), que vem pesquisando a temática“cognição e subjetividade”, toma a criança como fonte inspiradora para investigar os processos cognitivos. Dentre os múltiplos recortes de sua profícua obra é possível, mesmo que de modo simplório, dizer que a criança não tem uma cognição ou uma subjetividade inferior ao adulto ou menos evoluída. Ao contrário. Sob certos aspectos a criança apresenta sensibilidade, sagacidade e poder criativo superior ao modo dos adultos serem. Quem nunca ficou, por exemplo, estupefato com uma sacada da criança? Quem não já presenciou a criança descobrir um objeto rapidinho depois dos adultos gastarem um tempão a procurar? Ou mesmo quando os adultos levam a criança para um espaço qualquer, como um restaurante, e em questões de minutos ela já contatou outras crianças presentes no ambientes como se tivesse “antenas”? Essas são apenas situações que servem para exemplificar o refinamento das crianças em termos de sua percepção, atenção, raciocínio, etc.  
Tomando como base o pensamento bergsoniano sobre o tempo, Kastrup nos ajuda a compreender o jeito de ser da criança (a autora toma a criança como fonte inspiradora, mas seus trabalhos vão também em outras direções), quando sublinha que a experiência do tempo, enquanto tempo vivido, é mais marcante do que a experiência do tempo cronológico (mais característico da forma adulta de ser). É característico da experiência da criança viver o tempo a partir do que sente no “aqui e agora” e não em termos de uma organização sistemática temporal e distal.  
Importante observar que não há aqui um ovacionamento do tempo vivido em detrimento do tempo cronológico. Ambos são necessários para a vida e constituem o desenvolvimento humano. Entretanto, o que se quer marcar é a singularidade do jeito de ser da criança em termos de sua cognição e subjetividade, sem ser mais ou menos do que o adulto. Ademais, compreender essa singularidade possibilita tomar algumas lições desse jeito de ser da criança.  
Dentre essas possibilidades destaca-se a capacidade da criança manter sua inocência mesmo não sendo ingênua. “Não ser ingênua” significa que a criança tem funções cognitivas aguçadas e é capaz de perceber, sentir e avaliar situações muito mais do que o senso comum supõe, pelo menos é o que a Psicologia do Desenvolvimento vem apontando. 
Um dos desdobramentos de não ser ingênua e manter inocência tem a ver com a capacidade de resiliência das crianças em termos de enfrentamento de situações problemas, de superar mágoas, de não perder a capacidade de brincar e sorrir e manter a incrível capacidade de aprender (obviamente que estamos nos referindo a cenários típicos de desenvolvimento e que sob certas condições extremas a criança também sucumbe e expressa comprometimentos no desenvolvimento). 
Em tempos temerosos como estes que vivemos é importante aprender com as crianças a não ser ingênuo e manter a inocência, ou seja, estar atento aos acontecimentos, lutar pelos direitos sociais perdidos e ameaçados, pelo estado de direito e pela república em declínio, mas acima de tudo não perder a capacidade de sorrir para vida, guardar a inocência no coração! 


Referência 
KASTRUP, Virgínia. O Devir-Criança e a Cognição Contemporânea. Psicologia: Reflexão e Critica, 2000, 13(3), pp.373-382. 
KASTRUP, Virgínia. A invenção de si e do mundo. Uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. Campinas, SP: Papirus, 1999.

Publicado originalmente em https://www.pensaraeducacaoempauta.com/licao-das-criancas-nao-ser-ingenuo-?utm_campaign=dff3e31113-EMAIL_CAMPAIGN_2017_06_14&utm_medium=email&utm_source=PEPB%2B-%2BM&utm_term=0_51535e4216-dff3e31113-298627885