"Conceder a palavra às crianças não significa fazer-lhes perguntas e fazer com que responda aquela criança que levantou a mão em primeiro lugar [...]. Conceder a palavra às crianças significa, pelo contrário, dar a elas as condições de se expressarem."
(TONUCCI, 2005).

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Exploração do trabalho infantil: responsabilidade da sociedade e do estado


Uma importante discussão que a sociedade, como um todo, deve se apropriar é o que se refere a questão da exploração do trabalho infantil. Atualmente, cerca de 4,8 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, estão trabalhando no Brasil, segundo dados do PNAD (2007). Desse total, 1,2 milhão estão na faixa entre 5 e 13 anos. Apesar das políticas públicas como o  Peti (Programa de Erradicação ao Trabalho Infantil) e os programas de transferências de renda, que tem ajudado a diminuir esses dados, esta é ainda uma chaga nacional, sobretudo nas regiões norte e Nordeste.

Na recente audiência pública promovida pela Prefeitura Municipal de Petrolina, através da Secretaria de Cidadania, no dia 13 de junho de 2016, foi discutido um importante aspecto dessa temática, que é a necessária responsabilização da sociedade. Isto significa dizer que não bastaria a efetivação de uma lei que busque combater a exploração do trabalho infantil se a sociedade se mantém tolerante e mesmo insensível à exploração. Enquanto as pessoas não se indignarem com a exploração do trabalho infantil muito dificilmente o país superará esse desafio. Nesse sentido, abordar a questão da exploração do trabalho infantil é também uma intervenção sobre os aspectos psicossociais (preconceito, representação, percepção social, etc.). 

A audiência pública foi louvável justamente porque possibilitou esse tipo de confrontação reflexiva. Entretanto, não bastaria, pelo menos no meu pensar, desenvolver o sentido de responsabilização da sociedade (diga-se, das próprias pessoas) sem o comprometimento do estado.  Este (estado brasileiro) ainda falha muito no que diz respeito a garantia de direitos, sobretudo em relação ao direito de uma infância com dignidade para todas as crianças. 

Não adotar esse entendimento crítico, ou seja, de que não basta a sociedade desenvolver um sentido de responsabilização sem que o estado   faça a sua parte e seja cobrado por isso, é deveras preocupante pois acarreta um posicionamento individualista, e porque não dizer, neoliberal.
O problema da exploração do trabalho infantil no Brasil passa pela necessária responsabilização da sociedade, mas também pelo não menos importante fortalecimento dos dispositivos do estado que, em outras palavras, significa criar e oferecer condições para que não haja contextos de exploração, além, é claro, dos dispositivos de fiscalização e punição.

Nesta audiência estava na condição de professor convidado representando a Universidade Federal do Vale do São Francisco – Univasf.

Por Marcelo Silva de Souza Ribeiro.

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