"Conceder a palavra às crianças não significa fazer-lhes perguntas e fazer com que responda aquela criança que levantou a mão em primeiro lugar [...]. Conceder a palavra às crianças significa, pelo contrário, dar a elas as condições de se expressarem."
(TONUCCI, 2005).

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Aos olhos do outro



As atuais tendências sobre o estudo da criança e da infância tem denunciado o lugar de inferioridade que esse ser vem ocupando na sociedade. Paralelo a esse combate, há um esforço em buscar novas compreensões teóricas e modelos metodológicos para dar conta de uma visão de infância e criança ativa, válida per si e intérprete do mundo. Porém, isso não significa também negar as cargas de contingências que esse ser carrega e toda a sua particularidade nas relações com a sociedade, sobretudo a família. Em outras palavras: aceitar o papel ativo da criança e entender a infância como uma fase do desenvolvimento humano em si (não como um ser faltante), não significa se descuidar da importância e do papel da família e dos pais no que diz respeito ao seu desenvolvimento e formação.

Foi a partir dessa compreensão mais complexa (porque integra esses dois lados: da criança/infância ativa e a influência dos pais/família) que li e destaquei um trecho da obra ficcional e ao mesmo tempo auto-biográfica de Albert Camus, “O primeiro Homem”. Gostaria de dividir com vocês.

“Uma criança não é ninguém por si mesma, são seus pais que a representam. É por meio deles que ela é definida aos olhos do mundo. É através deles que ela se sente verdadeiramente julgada, ou seja, julgada sem apelação, e era esse julgamento feito pelo mundo que Jacques tinha acabado de descobrir, e com ele seu próprio seu próprio julgamento sobre aquele coração mau que tinha...” (p.179).


Este trecho retrata a experiência do protagonista, quando criança, em uma escola da elite local. O protagonista, Jacques (que era o próprio Camus), vivia a experiência de ser julgado e avaliado, aos olhos do mundo escolar, a partir de suas origens familiares (humildes, pobres, sem escolaridade...). Essa criança se via, era vista e se sentia por aquilo que seus eram.

Marcelo Ribeiro.

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