As
atuais tendências sobre o estudo da criança e da infância tem denunciado o
lugar de inferioridade que esse ser vem ocupando na sociedade. Paralelo a esse
combate, há um esforço em buscar novas compreensões teóricas e modelos
metodológicos para dar conta de uma visão de infância e criança ativa, válida per si e intérprete do mundo. Porém,
isso não significa também negar as cargas de contingências que esse ser carrega
e toda a sua particularidade nas relações com a sociedade, sobretudo a família.
Em outras palavras: aceitar o papel ativo da criança e entender a infância como
uma fase do desenvolvimento humano em si (não como um ser faltante), não
significa se descuidar da importância e do papel da família e dos pais no que
diz respeito ao seu desenvolvimento e formação.
Foi
a partir dessa compreensão mais complexa (porque integra esses dois lados: da
criança/infância ativa e a influência dos pais/família) que li e destaquei um
trecho da obra ficcional e ao mesmo tempo auto-biográfica de Albert Camus, “O
primeiro Homem”. Gostaria de dividir com vocês.
“Uma
criança não é ninguém por si mesma, são seus pais que a representam. É por meio
deles que ela é definida aos olhos do mundo. É através deles que ela se sente
verdadeiramente julgada, ou seja, julgada sem apelação, e era esse julgamento
feito pelo mundo que Jacques tinha acabado de descobrir, e com ele seu próprio
seu próprio julgamento sobre aquele coração mau que tinha...” (p.179).
Este
trecho retrata a experiência do protagonista, quando criança, em uma escola da
elite local. O protagonista, Jacques (que era o próprio Camus), vivia a experiência
de ser julgado e avaliado, aos olhos do mundo escolar, a partir de suas origens
familiares (humildes, pobres, sem escolaridade...). Essa criança se via, era
vista e se sentia por aquilo que seus eram.
Marcelo Ribeiro.
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