"Conceder a palavra às crianças não significa fazer-lhes perguntas e fazer com que responda aquela criança que levantou a mão em primeiro lugar [...]. Conceder a palavra às crianças significa, pelo contrário, dar a elas as condições de se expressarem."
(TONUCCI, 2005).

sábado, 17 de outubro de 2015

Conta da Educação Infantil


Por Marcelo Ribeiro

Recentemente dia das crianças e hoje dia do professor. Mesmo não sendo afeito a encher de mensagens e fotos os dias comemorativos (porque poluídos de tantas mensagens, postagens etc. me fazem perder o sentido de tecer alguma homenagem), não pude deixar de efetuar a seguinte matemática: dia das crianças + dia do professor + educação infantil / professor da educação infantil. Então essa espontânea matemática me trouxe de volta um sentido, um vigor, para registrar algumas palavras sobre o referido resultado.

Como de costume, mesmo sendo uma homenagem, não me esquivo de um toque crítico.

Então, eis aqui minha conta.

Se a educação, ou melhor, os profissionais que nela trabalham, especificamente os docentes, são aqueles que vivem a contradição social de ser representado positivamente (quem vai negar a importância do professor?), mas de ser maltratado em sua condição de trabalho (baixas remunerações, difíceis condições no exercício da profissão, etc.), os professores da educação infantil vão ocupar o mais baixo estrado da “pirâmide da educação”. No topo, estariam os professores universitários, que tentam se segurar no que podem para não despencarem ladeira abaixo. Em seguida, os professores do ensino médio e fundamental, que labutam na penúria da docência. E os mais miseráveis, aqueles que mal são reconhecidos como professores, os que têm os salários mais baixos e os que apresentam os menores índices de formação (vide dados do próprio Ministério da Educação – MEC/ Brasil).

Aliás, não só os docentes da educação infantil ocupam os mais baixos estratos do mundo do trabalho, mas quase todos os profissionais que se dedicam a infância vão também estar em níveis inferiores se comprados aos outros. Por exemplo: os pediatras se comparados aos cirurgiões, os psicólogos infantis se comparados aos psicólogos de adultos e por vai.

Certamente essa “gravidade” que puxam os profissionais que se dedicam a infância tem gênese histórica e que se atualiza nos dias de hoje. Afinal a infância, mesmo com todos reconhecimentos conquistados ainda parece ocupar um lugar inferior e simultaneamente a criança e todos aqueles que dela se aproximam.

É lamentável esse quadro , sobretudo na educação infantil, pois nesse nível é onde se pode trabalhar as bases da educação do sujeito, toda a formação dos valores e, sobretudo uma base para formação cientifica. Os professores da educação infantil tem um papel fundamental na formação das crianças e, portanto, recaem sobre eles uma exigência singular de trabalhar os aspectos do cuidar e do educar, na ludicidade natural das crianças,  introduzindo-as na mais alta cultura humana e nos processos mais caros de socialização.

Dessa conta (dia das crianças + dia do professor + educação infantil / professor de educação infantil) se contabiliza avanços na realidade brasileira, mas também subtrações que ainda persistem.


Este texto foi publicado no Boletim Para Pensar a Educação (em 16/10/2015):
http://www.pensaraeducacaoempauta.com/#!marcelo-ribeiro-16out/vkgpi

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