"Conceder a palavra às crianças não significa fazer-lhes perguntas e fazer com que responda aquela criança que levantou a mão em primeiro lugar [...]. Conceder a palavra às crianças significa, pelo contrário, dar a elas as condições de se expressarem."
(TONUCCI, 2005).

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Bang-Bang: vamos matar crianças?



É claro que existe uma diferença entre o que é dito e o que se faz, entre o discurso e a ação. Contudo, palavra e gesto não estão dissociados e os processos educativos evidenciam isso quando, por meio da palavra, informamos, sugerimos, indicamos e transmitimos. E de modo semelhante, por meio do gesto, damos modelos, possibilitamos imitações e enriquecemos os caminhos a serem seguidos. Gestos e palavras se intercambiam e tem gêneses integradas – isto é que nos ensina, por exemplo, a psicologia do desenvolvimento.
Palavra e gesto são, portanto, interdependentes, sobretudo quando pensamos o processo educativo envolvendo pais e crianças. Assim, a cena exibida e replicada para todo o país, do presidenciável Bolsonaro, carregando uma criança e fazendo o gesto de apontar e atirar uma arma de fogo, tem um forte impacto no cotidiano de uma nação, mas principalmente na orientação educativa e relacional que enseja.
Bolsonaro, como um líder político de um país inspira pessoas, serve como horizonte e elege símbolos que norteiam as vidas dos brasileiros. Um gesto assim de atirar e uma palavra assim de bang-bang não pode ser percebido como algo inocente, incólume. As repercussões podem ser desastrosas no modo como a sociedade apreende e reelabora valores e esses, por suas vezes, são articulados aos processos educativos, que são decisivos para o desenvolvimento das crianças.
A cena ainda pouco retratada está muito longe das brincadeiras vividas pelas crianças de atirar, de matar, de guerrear, de lutar… A depender do contexto de desenvolvimento das crianças, tais brincadeiras até ajudam as crianças a elaborarem e a lidarem com sentimentos de raiva e ou frustrações, por exemplo. A cena em questão é da dimensão do valor e indica, inclusive, como solução para algumas mazelas do país, a ideia de que a violência deve ser combatida com violência. Uma coisa é a austeridade em relação aos crimes, corrupções… outra coisa é acreditar que a violência vai combater a violência. Bang-Bang!
O Bang-Bang, portanto, seria a metáfora da violência como forma de lidar com a própria violência. Porém, essa metáfora extrapola o combate à violência (violência no sentido convencional que se refere aos crimes, assaltos, furtos, latrocínios, etc) e vai para o campo mesmo das relações interpessoais. O Bang-Bang seria um modo de lidar também com os conflitos e com o que envolve as diferenças.
O farol reforçado por Bolsonaro orienta o Bang-Bang, no campo social, como meio para lidar com os conflitos e as diferenças, daí a intolerância sendo uma espécie de anti valor a ser cultivado. As portas estão abertas para intensificação da banalização quanto ao machismo, ao racismo e a homofobia, problemas já crônicos no Brasil.
Uma sociedade do Bang-Bang regride o processo civilizatório e deixa mais vulnerável certos grupos sociais, como as crianças. Será que veremos mais crianças morrerem? Vamos matar crianças? Bang-Bang!!!

Postado originalmente :
http://pensaraeducacao.com.br/pensaraeducacaoempauta/bang-bang-vamos-matar-criancas/?utm_source=Jornal+Pensar+a+Educação+em+Pauta+-+Assinaturas&utm_campaign=e7e0b8bed6-EMAIL_CAMPAIGN_2018_10_19_02_22_COPY_190&utm_medium=email&utm_term=0_09ac6f560e-e7e0b8bed6-299658533

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Reunião de pesquisa

Com muito entusiasmo , tivemos a nossa primeira reunião (pós assinatura da cooperação internacional) de pesquisa envolvendo l investigadores do Nupie e do Canadá .  
Ajustamos algumas bases comuns do projeto de pesquisa, que trata do lugar da brincadeira na relação adulto e criança nos contextos familiares e educacionais. 
Muito trabalho nos aguarda!




sábado, 6 de outubro de 2018

Livro fantástico sobre o mundo infantil

Um dos romances mais incríveis que já tive a oportunidade de ler, sobretudo se tratando do universo infantil. Em Paddy Clarke Ha Ha Ha, Roddy Doyle, escritor irlandês, conta a história  de Paddy e suas incríveis aventuras de uma infância da década de 1960. Crianças em bando, explorando as ruas e as vendo se perderem com o avanço das urbanizações modernas, a vida na escola baseada na disciplina e também as brigas entre os meninos e suas espetaculares crueldades, sem falar nas transgressões como os pequenos furtos nas vendas, nas traquinagens com os vizinhos... mas sobretudo a experiência da casa, com seus irmãos e pais em processo lento e continuo de separação... a vivência de Paddy nos permitir te adentrar em seu mundo e sentir uma revolta o tomando ao tempo que sentimos a maturidade, às vezes doida, chegando. Não sai incólume da leitura. O menino Paddy me fez revisitar tambem minha infância e toda a intensa alegre e doida vida que vive. Incrível leitura e lições fantásticas sobre a vida das crianças e também das nossas.. nossas crianças.